quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Meu Sertão ( Poema Matuto)




Dotô eu venho lhe falar,
Que estou muito maguado,
Por que o sinhô foi zombar,
Do meu sertão abençoado,


Dotô o sinhô pode contê,
Grande estudo e valor,
Mais não conhece o sabô,
Que contem este chão,
O sinhô estudou midicina,
Mais não cunhece a dutrina,                                                                      
Que por aqui se insina,
Desde muito pequeno,


Sou um matuto sim sinhô,
Digo com muito orguio,                                                                            
Sou um caboco tapuio,
Mais sei mi virar no sertão,
Pega um bom barbatão,
Coisa que o sinhô num faz,


Sei que o dotô sempre istudou,
Sempre nos miores colégio, 
Eu num tive esse privilegio,
E nem invejo o sinhô,
Pruque sei correr dento do mato,
Com meu gibão meu aparato,
Meu garda peito e perneira,
Já dei tamanha carreira,
E nunca sufri um matrato


Admiro os violeiros,
O bom forró verdadeiro,
Não gosto desse forró muderno,
Pra mim esse é o inferno,
E o fim do sanfoneiro,


Gosto de deleitar a vacaria,
Ouvir uma boa cantoria,
Comer uma lambú assada,
Ver uma noite de invernada,
Ir para procissão e romaria,


Seu dotô se quiser lhe insino,
As coisas de meu pé de serra,
O luá de minha terra,
Que adimiro desde minino,
Que eu gosto de coração,
Não é como o luá da cidade
Que num é um luá de verdade,
E um simpre arrimidei,
Seu doto eu nunca istudei,
Mais no mato me formei,                                                                          
Para matuto lavrador,
Conheço do vento o sabor
A zuada do truvão,
Aprendi sem ninguém me insinar
Pois não precisa de estudar,
Pra intender o meu sertão.


Autor: Monteiro

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